quinta-feira, 22 de maio de 2014

Revolta das Barcas de 1959 - A verdadeira Revolução

  Ontem, dia 21 de maio, São Paulo foi marcada por uma paralisação dos funcionários do transporte público. Como em geral acontece, a greve acabou sem muitos efeitos além de um grande prejuízo para o trânsito e uma pequena negociação com a classe organizada. Diferentemente, em 22 de maio de 1959, há exatos 55 anos, acontecia o episódio chamado de A Revolta das Barcas, em Niterói, com resultados muito mais drásticos que seriam, provavelmente, aplaudidos por Marx.

  Ainda não existia ponte Rio-Niterói e a passagem dependia de barcas. A concessão do serviço estava, desde 1953, nas mãos da Frota Barreto SA, do grupo Carreteiro, nome da família dos donos da empresa. As greves dos funcionários estavam ocorrendo com certa frequência havia tempos, pois havia grande organização sindical e muitas denúncias de irregularidades da empresa. O grupo pedia incessantemente ajuda do governo por razão de supostos prejuízos, mas o que se via era o enriquecimento pujante da família. Mais, a cada paralisação, o grupo via oportunidade para aumentar tarifas afim de melhorar o salário dos empregados.

reparem como os jornais são tendenciosos.

mais uma vez, a ordem acima de tudo.
  Nesse dia, a paralisação pelo atraso do pagamento dos salários, feita de surpresa, parecia apenas mais uma. As forças armadas foram chamadas para realizar a travessia, mas o serviço era prestado de forma restrita, pois as balsas da marinha eram menores. A população começava a se agitar. Até aí, tudo normal. Durante o empurra-empurra, um militar deu uma coronhada, um passageiro atirou uma pedra na barca, outro militar atirou para o alto e logo o que se via eram barcas da empresa em chamas, assim como a mobília da estação. Poderia ter parado por aí, mas o que se viu foi uma marcha até o escritório da empresa que foi destruído. Poderia ter parado por aí, mas o que se viu foi outra marcha de três quilômetros até a residência da família Carreteiro, que foi devidamente violada. Móveis de luxo destruídos e pessoas vestindo jóias caras como numa festa a fantasia, a fim de ridicularizar a corrupta família. Uma inscrição na parede dizia: Aqui jazem as fortunas do Grupo Carreteiro, acumuladas com o sacrifício do povo.
estação arruinada das barcas

  Resultados da revolta: 6 mortes e mais de 100 feridos; a estatização do serviço!

  Enfim, podemos perceber que uma greve pode trazer soluções para uma classe, mas só quando o povo age é que a revolução acontece. Talvez, se o serviço permanecesse nas mãos de um grupo rico, não haveria até hoje a ponte. Agora, digam, qual é a solução para o transporte público no Brasil? Enquanto isso, deixemos o suado dinheiro nas mãos de empresas que sabemos ser MUITO mais corruptas do que eram os Carreteiro. O transporte aquaviário da Baía de Guanabara foi privatizado novamente no fim da década de 90 e o que se vê é, novamente, preços abusivos e demanda muito maior que a capacidade. A frase de Flávio Almada, superintendente da Barcas SA, em 2008, diz tudo: Ou fica duas horas num ônibus, ou fica (*) uma hora na fila. O que aconteceu com o povo? Por que, hoje, falar em revolução é tabu? Por que usar da força virou vandalismo?

Atenciosamente.



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