terça-feira, 28 de janeiro de 2014

As Bebidas Alcoólicas

Colheita de uvas em arte egípcia
Ao tomar uma cerveja ou vinho não nos damos conta de quanto primordial é a reação que transformou o cereal ou a fruta em algo alcoólico. A fermentação a partir de bactérias e fungos existia muito antes da civilização ou do próprio Homo sapiens, do qual os ancestrais já deveriam provar, assim como diversos animais, frutos alcoólicos e plantas que fermentaram (apodreceram) em tempos de escassez. Foi só questão de observar e controlar o processo. Não que seja um processo rápido e simples, pois a engenhosidade dessa façanha só demonstra a inteligência, muitas vezes subestimada, de nossos antepassados.

Como sempre, o relato mais antigo de produção de bebida com teor de álcool vem da China, mas foram os sumérios, no Oriente Médio, que popularizaram a cerveja. Na mesma região foi concebido o vinho que conhecemos.

É fundamental entender que, sem geladeira e freezer, é imperativa a criação de modos alternativos de conservação dos alimentos, como salmoura, imersão em banha ou a fermentação. Para os egípcios, por exemplo, cerveja era pão líquido e muitos recebiam seus soldos em cerveja, lembrando que os operários nas pirâmides, por exemplo, não eram em maioria escravos, mas trabalhadores pagos. Como a concepção de moeda foi criada na Lídia, no século VIII a.C., era comum pagar os empregados com outros produtos que não metais previamente pesados.

Na mesopotâmia, durante muito tempo a cerveja era reservada à nobreza. Tempos depois, a cerveja se popularizou e o vinho é que se tornou a preferência entre os nobres.

Dionísio


Na antiguidade ocidental, Grécia e Roma cultuavam tanto a bebida fermentada da uva que possuíam um Deus do vinho: Dionísio e Baco, respectivamente. Já se associava o seu consumo a diversão e luxúria.


Na Roma Antiga, o vinho ganhou força no comércio, tanto interno quanto externo e pôde se espalhar por toda a Europa, até chegar às áreas que, hoje, possuem as mais valorizadas regiões vinícolas (Itália, França, Portugal...).








A destilação surgiu na Grécia, com a acqua ardens. Foram os árabes, no entanto, que conseguiram controlar o processo de destilação com máquinas semelhantes às modernas, apesar de se proibir o consumo de álcool na religião islâmica atualmente. O Arak é a aguardente que eles tomam misturada com licor de anis. A partir dessa base, surgiram destilados típicos em diversas regiões como a Grappa italiana de uva, o Kirsch germânico de cereja, além do Whisky de cevada, da Vodka de centeio. Em Portugal, existe a Bagaceira, versão lusitana da Grappa. O Saquê, por incrível que pareça, é fermentado e não destilado.
Origem de bebidas destiladas com seu teor alcoólico, do site Bistury.worldpress.com

Na Idade Média, o consumo continuou em níveis elevadíssimos para os padrões modernos, sendo que até as crianças bebiam e muito. A igreja católica elegeu São Arnoldo como padroeiro da cerveja, pois salvou a vida de muitas pessoas ao incentivar o seu consumo no lugar de água em tempos de Peste. Aparentemente, o álcool da bebida fermentada pode ter diminuído a contaminação.

A fácil conservação levou os navios usados em todo o Renascimento, durante as Grandes Navegações, a carregarem mais vinho do que água, que se contaminava facilmente nas condições em que era mantida. -Ainda na Idade Moderna, a produção de destilados de cana-de-açúcar como a cachaça (no Brasil) e o rum (no caribe) foram parte fundamental no comércio escravagista. As bebidas eram usadas como moeda de troca na África.

Adendo aqui para a nossas bebidas nacionais. Antes mesmo da colonização portuguesa, os povos indígenas produziam bebidas a partir de raízes, milho, folhas e sementes. Em alguns casos, um grupo de pessoas cuspia no caldeirão para ajudar a fermentação.
Já no Brasil colônia, num processo semelhante ao da criação do rum, foi concebida a cachaça através da utilização das primeiras espumas na ebulição do melaço. A princípio era dada aos porcos e escravos, mas logo surgiu um mercado valoroso para o produto. O termo pinga surgiu pelo processo de evaporação e condensação que forma uma goteira que, lentamente, pinga aguardente.
Mais um adendo para um dos mais famosos destilados coloniais: a Tequila mexicana, produzida através do agave-azul, bromélia existente em Jalisco. A planta era usada com diversas utilidades como fabricação de sabão e construção e foi no século XVI que passou a ser destilada. Assim como a cachaça, sofreu sanções e cobrança de altos impostos por concorrer com as bebidas trazidas da Metrópole, como o Vinho do Porto (no caso da cachaça) e os vinhos e licores espanhóis no México (no caso da tequila). Caso diferente do Rum produzido no Caribe britânico, que gerou grandes lucros para os colonos, receita de sucesso imitada tardiamente pelos latinos.





O esquema de comércio triangular das colônias britânicas que funcionou muito melhor do que a simples exploração do mercado das colônias no Brasil, com o monopólio de comércio com da metrópole.








Já no Século XX é que se começou a pensar nos problemas gerados pela bebida. Nos Estados Unidos houve uma época de proibição do consumo (lei seca), e alguns dos grandes empresários americanos começaram a vida contrabandeando álcool.
Uma vez inventada a geladeira, outras formas de conservação de alimentos passaram a ser utilizadas como tradição e não necessidade.

É só com a evolução da medicina e com o advento da popularização do automóvel que bebida alcoólica passou a ser sinônimo de doença e morte. Ainda hoje há profissionais que defendem o consumo em baixas doses do vinho e da cerveja, mas há controvérsias.

Atenciosamente.

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