quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Cores da Bandeira Nacional


Responda rápido:
Qual o significado das cores da bandeira do Brasil?

Se você respondeu: O verde é a natureza, o amarelo o ouro e as riquezas e o azul o céu, sua resposta se enquadra na concepção da esmagadora maioria dos brasileiros. Vejamos, porém, um pouco mais a fundo a história por trás da criação desse símbolo nacional.



Criada após a independência nacional, em 1822, por ordem de Dom Pedro I, pelo artista francês Debret, que desenhou o paralelogramo com o losango central, nada de novo, simplesmente ao estilo de antigas bandeiras militares imperiais francesas. No centro, o brasão imperial.
Repare, porém, as cores verde e amarelo do brasão imperial. Claro, correspondiam às cores das famílias imperiais verde de Bragança (por parte do imperador) e amarelo ouro dos Habsburgo austríacos (por parte da imperatriz). Há documentos e relatos da época em que se explicam as cores dessa maneira, enquanto não há documento oficial que comprove, mesmo após as mudanças que ela sofreu na República, que os significados que nos são passados na escola sejam verdadeiros. Pelo contrário, existe, sim, documento de republicano dizendo que as cores foram mantidas pelo seu significado para a história e glórias da nação (pois o governo republicano era militar e foram essas as cores defendidas durante as Guerras pelas quais o Brasil passou ao longo do século XIX). Então temos um símbolo imperial em nossa república.

Bandeira do Brasil Império de D. Pedro I
De forma alguma minha intenção é de desconstruir um símbolo nacional, lindo por sinal. É necessário, no entanto, que se saiba a origem verdadeira do que nos cerca, ou ficaremos jogados num mar de ingenuidade histórica, onde o passado parece conto de fadas. Por que produzir tal tipo de engodo histórico? Para mostrar às criancinhas na escola um passado mais bonito? E o que tem de feia a verdadeira origem da nossa bandeira?

De qualquer modo, mais uma curiosidade: o estado americano de Delaware, por sinal o mais antigo deles, por conseguinte muito influenciado por franceses na sua criação, assim como o império brasileiro, tem uma bandeira curiosa, no mínimo, datada de 35 anos antes da independência do Brasil.


Bandeira de Delaware

Lembra alguma que você conhece?

atenciosamente.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

As Bebidas Alcoólicas

Colheita de uvas em arte egípcia
Ao tomar uma cerveja ou vinho não nos damos conta de quanto primordial é a reação que transformou o cereal ou a fruta em algo alcoólico. A fermentação a partir de bactérias e fungos existia muito antes da civilização ou do próprio Homo sapiens, do qual os ancestrais já deveriam provar, assim como diversos animais, frutos alcoólicos e plantas que fermentaram (apodreceram) em tempos de escassez. Foi só questão de observar e controlar o processo. Não que seja um processo rápido e simples, pois a engenhosidade dessa façanha só demonstra a inteligência, muitas vezes subestimada, de nossos antepassados.

Como sempre, o relato mais antigo de produção de bebida com teor de álcool vem da China, mas foram os sumérios, no Oriente Médio, que popularizaram a cerveja. Na mesma região foi concebido o vinho que conhecemos.

É fundamental entender que, sem geladeira e freezer, é imperativa a criação de modos alternativos de conservação dos alimentos, como salmoura, imersão em banha ou a fermentação. Para os egípcios, por exemplo, cerveja era pão líquido e muitos recebiam seus soldos em cerveja, lembrando que os operários nas pirâmides, por exemplo, não eram em maioria escravos, mas trabalhadores pagos. Como a concepção de moeda foi criada na Lídia, no século VIII a.C., era comum pagar os empregados com outros produtos que não metais previamente pesados.

Na mesopotâmia, durante muito tempo a cerveja era reservada à nobreza. Tempos depois, a cerveja se popularizou e o vinho é que se tornou a preferência entre os nobres.

Dionísio


Na antiguidade ocidental, Grécia e Roma cultuavam tanto a bebida fermentada da uva que possuíam um Deus do vinho: Dionísio e Baco, respectivamente. Já se associava o seu consumo a diversão e luxúria.


Na Roma Antiga, o vinho ganhou força no comércio, tanto interno quanto externo e pôde se espalhar por toda a Europa, até chegar às áreas que, hoje, possuem as mais valorizadas regiões vinícolas (Itália, França, Portugal...).








A destilação surgiu na Grécia, com a acqua ardens. Foram os árabes, no entanto, que conseguiram controlar o processo de destilação com máquinas semelhantes às modernas, apesar de se proibir o consumo de álcool na religião islâmica atualmente. O Arak é a aguardente que eles tomam misturada com licor de anis. A partir dessa base, surgiram destilados típicos em diversas regiões como a Grappa italiana de uva, o Kirsch germânico de cereja, além do Whisky de cevada, da Vodka de centeio. Em Portugal, existe a Bagaceira, versão lusitana da Grappa. O Saquê, por incrível que pareça, é fermentado e não destilado.
Origem de bebidas destiladas com seu teor alcoólico, do site Bistury.worldpress.com

Na Idade Média, o consumo continuou em níveis elevadíssimos para os padrões modernos, sendo que até as crianças bebiam e muito. A igreja católica elegeu São Arnoldo como padroeiro da cerveja, pois salvou a vida de muitas pessoas ao incentivar o seu consumo no lugar de água em tempos de Peste. Aparentemente, o álcool da bebida fermentada pode ter diminuído a contaminação.

A fácil conservação levou os navios usados em todo o Renascimento, durante as Grandes Navegações, a carregarem mais vinho do que água, que se contaminava facilmente nas condições em que era mantida. -Ainda na Idade Moderna, a produção de destilados de cana-de-açúcar como a cachaça (no Brasil) e o rum (no caribe) foram parte fundamental no comércio escravagista. As bebidas eram usadas como moeda de troca na África.

Adendo aqui para a nossas bebidas nacionais. Antes mesmo da colonização portuguesa, os povos indígenas produziam bebidas a partir de raízes, milho, folhas e sementes. Em alguns casos, um grupo de pessoas cuspia no caldeirão para ajudar a fermentação.
Já no Brasil colônia, num processo semelhante ao da criação do rum, foi concebida a cachaça através da utilização das primeiras espumas na ebulição do melaço. A princípio era dada aos porcos e escravos, mas logo surgiu um mercado valoroso para o produto. O termo pinga surgiu pelo processo de evaporação e condensação que forma uma goteira que, lentamente, pinga aguardente.
Mais um adendo para um dos mais famosos destilados coloniais: a Tequila mexicana, produzida através do agave-azul, bromélia existente em Jalisco. A planta era usada com diversas utilidades como fabricação de sabão e construção e foi no século XVI que passou a ser destilada. Assim como a cachaça, sofreu sanções e cobrança de altos impostos por concorrer com as bebidas trazidas da Metrópole, como o Vinho do Porto (no caso da cachaça) e os vinhos e licores espanhóis no México (no caso da tequila). Caso diferente do Rum produzido no Caribe britânico, que gerou grandes lucros para os colonos, receita de sucesso imitada tardiamente pelos latinos.





O esquema de comércio triangular das colônias britânicas que funcionou muito melhor do que a simples exploração do mercado das colônias no Brasil, com o monopólio de comércio com da metrópole.








Já no Século XX é que se começou a pensar nos problemas gerados pela bebida. Nos Estados Unidos houve uma época de proibição do consumo (lei seca), e alguns dos grandes empresários americanos começaram a vida contrabandeando álcool.
Uma vez inventada a geladeira, outras formas de conservação de alimentos passaram a ser utilizadas como tradição e não necessidade.

É só com a evolução da medicina e com o advento da popularização do automóvel que bebida alcoólica passou a ser sinônimo de doença e morte. Ainda hoje há profissionais que defendem o consumo em baixas doses do vinho e da cerveja, mas há controvérsias.

Atenciosamente.