sábado, 16 de fevereiro de 2013

Meteoros - História da Meteorítica

Essa semana, o mundo foi surpreendido pela notícia de um meteoro de 10 a 40 toneladas que passou muito perto da Terra na Rússia. Alguns fragmentos menores chegaram a atingir o solo. O rastro no céu, assim como a explosão causada quando a rocha metálica desacelerou abaixo da barreira do som foram captados por vídeos amadores, que constataram o poder destrutivo do fenômeno: 25 milhões de Euros, principalmente em vidros quebrados, além de 1200 feridos indiretamente.

Meteoros, Meteoritos e Estrelas Cadentes chamam a atenção de nossos pares desde a Pré História, além de terem papel crucial no desenvolvimento da tecnologia de trabalho com metais.

É sabido que índios na América do Norte usavam meteoritos metálicos para fundirem suas armas, e é desse fato que surge a ideia de que nossos ancestrais pré históricos fariam o mesmo, pois não havia fonte mais fácil de metais que as estranhas rochas que encontravam perdidas no chão.
Na Grécia, o filósofo Diógenes da Apolônia chegou a teorizar que o fenômeno consistia em rochas que caiam do céu e atingiam lagos e o mar, o que tornava impossível sua localização. Porém, por muitos Séculos foram configuradas como meros fenômenos atmosféricos, como a chuva e os trovões, que seriam criados a partir das nuvens, ou ainda que seriam fragmentos de explosões vulcânicas.

Mesmo após a invenção do telescópio, a comunidade científica acreditava que o espaço interplanetário era vazio, alinhados com a teoria de Isaac Newton. Já no século XVIII é que começaria o desenvolvimento da ciência da Meteorítica, mas demoraria anos para que se empenhasse alguma credibilidade às novas evidências.

Em 1772, o explorador Peter Pallas descobriria, na Sibéria, uma rocha de metal com gemas incurstradas que a população local dizia ser caída dos céus. Talvez tenha sido um dos primeiros a defender oficialmente a a etiologia cósmica dos meteoritos.

Florens Chladini, apoiado por Pallas, publicou a primeira teoria de rochas provenientes do espaço interplanetário. Pela obra "Sobre a Origem do Ferro de Pallas e outras similaridades a ela, e sobre alguns fenômenos naturais associados" de 1794, ficou conhecido como Pai da Meteorítica. Infelizmente, para a época, sua obra não foi levada a sério.

A primeira chance de provar a teoria ocorreu um ano após a publicação. Na Inglaterra, mais precisamente em Wold Cottage, caiu um pedra de 25Kg, de liga semelhante ao Ferro de Pallas e de outros citados na obra de Chladini. Essa análise foi realizada por Esward Howard, químico britânico. Seria o início da popularização da Meteorítica na comunidade científica.

Ainda assim, muitos encontravam-se descrédulos. Foi em 1803, em L'Aigle, França, que o físico Jean-Baptiste Boit analisou uma chuva de milhares de meteoritos de composição semelhante às anteriormente encontradas. Não havia dúvida de que a meteorítica merecia atenção.

Como se pode observar, fenômenos como o ocorrido na Rússia sempre fizeram parte da nossa história, mas nunca foram documentados e capturados como o dessa semana. A era da informação instantânea nos leva a superestimar fatos, por isso precisamos de critério ao analisar eventos e mensurar suas proporções.
Em 1908, por Exemplo, um evento de maior escala atingiu Tunguska, também na Rússia, mas a tecnologia da época não proporcionou o conhecimento necessário para o seu esclarecimento total, levando a inúmeras teorias, algumas totalmente infundadas. Mesmo no Brasil, um evento de magnitude semelhante ocorreu perto do rio Curaçá em 1930. Um missionário, poucos dias depois, recolheu o relato de pessoas do local, todas muito assustadas. Em 1997, uma expedição chegou a encontrar a suposta cratera, hoje alvo de muitas pesquisas mas, por ter sido em um local tão inóspito, o fato ficou quase esquecido. Talvez, com o conhecimento adquirido hoje, possamos até mesmo descobrir melhor o que ocorreu no início do século passado. Essa é a ciêcia da Meteorítica, em desenvolvimento constante e auxiliar na explicação do passado e do futuro.

Atenciosamente.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Breve História do Papado - II

Continuação de Breve História do Papado - I

Para continuar a postagem, inicio com dados que obtive durante a pesquisa e que são muito ilustrativos para imaginar a época que descreverei. 5 Papas abdicaram; 21 morreram como mártires e outros 9 sobre martírio; 4 faleceram exilados ou aprisionados; 6 foram assassinados e 2 mortos durante revoltas; existiram nada menos que 37 antipapas.

Isso se deveu, em parte, à grande influência externa nos assuntos da Cúria. Ora os Bizantinos, ora o Sacro Imperador, ora a França, todos queriam pôr, no papado, alguém de confiança e que os favorecesse, sem se importarem com os meios.


O grande Cisma do Ocidente

O poder do Papa medieval atinge níveis inimagináveis. Por volta de 1300, Bonifácio VIII simplesmente livra o clero de impostos. A falta de Cartas Magnas fez com que o código canônico fosse amplamente utilizado em toda a Europa como lei.
 Em 1309, o rei francês deteve o papa em Avignon, onde permaneceu a linha sucessória até 1378, quando Gregório XI voltou para Roma, já perto de falecer.
É nesse contexto que, no mesmo ano, o eleito para sucessão, Urbano VI, recusa voltar para Avignon. Muitos cardeais o veem como autoritário e, na cidade de Fonti, decidem fazer um novo conclave. É eleito Clemente VII, que ficaria na sede de Avignon, com o apoio de França, Escócia, Nápoles, Borgonha, Savóia, Chipre, Castela, Aragão e, no Início, de Portugal também. Urbano VI ainda tinha apoio da Inglaterra, Países Nórdicos, Polônia, do Sacro Império, Hungria, Norte da Itália, Hungria e de Portugal sob a dinastia de Ávis.

Vale lembrar o contexto da política européia da época. A guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra levou as duas alianças a se oporem na questão. Da mesma forma, Portugal, sob Fernando I, apoiou Avignon. Depois da crise sucessória e a Revolução de Ávis, quando houve confronto contra Castela, não é estranho que João I passasse a apoiar o Papa Romano, alinhado com sua aliada, Inglaterra.

Em 1409, no Concílio de Pisa, foi eleito Alexandre V, na tentativa de um acordo, mas o que aconteceu foi que passaram a existir nada menos que três papas, cada um excomungando os fiéis aos outros. Nunca a Igreja chegou tão próxima de um fim sórdido, imerso em ambição e corrupção. Foi só no Concílio de Constança que se depuseram os três papas e se elegeu, em 1417, Martinho V, Sumo Pontífice (a expressão Pontífice foi herdada do Imperador de Roma quando da queda do Império). E se você acha que finalmente a violência teve fim, pois saiba que o pior momento ainda estava por vir.


O Papa Bórgia

Rodrigo Bórgia, o papa Alexandre VI
Com a morte de Inocêncio VIII, reuniu-se Conclave em 1492. Rodrigo Bórgia havia sido cardeal havia mais de 30 anos, nomeado por seu tio Afonso Bórgia (Papa Calisto III) e não era surpresa que fosse um nome forte para concorrer ao Trono do Vaticano. É sabido que ele gastou sua fortuna para subornar e comprar votos do conclave, além de intimidar quem pôde. Conseguiu o que queria: assumiu o Papado com o nome de Alexandre VI.
Sem querer bancar o advogado do diabo, acredito que muitas das acusações a ele atribuídas podem ser consideradas falsas, porém, é fato que, assim como a grande maioria da nobreza e do clero da época, Alexandre VI era corrupto e imoral de acordo com nossos atuais valores. As intrigas vão desde assassinatos a incesto.

De origem Castelhana, que por si só poderia ser motivo para desagrado de muitos, teve quatro filhos com Vannozza dei Cattanei: Juan, Cesare, Lucrezia e Jofre. Além de outros filhos com demais amantes (o celibato já existia). Entre as outras amantes, Giulia Farnese, mulher de Orsino Orsini, que por razão óbcia tinha tudo para odiá-lo. Um de seus filhos, Cesare, em especial, foi acusado de matar o irmão para assumir o papel de chefe do exército papal, que lutava contra os Turco Otomanos e, quando podia, tomava terras em seu próprio nome.

Entre as acusações menos embasadas, a de que Alexandre VI teria um caso com a própria filha, Lucrezia, provavelmente foi lançada para tentar impedir o casamento dela com uma família importante. Além, disso, houve uma suposta dupla tentativa de envenenamento entre ele e seu filho Cesare, mas que os mais sérios acreditam ter sido apenas uma doença contraída pelos dois, numa época de surto. Cesare recuperou-se, seu pai não.

Para conseguir driblar a oposição da Cúria, nomeou inúmeros novos cardeais sob seu comando, muitos familiares e até seu filho de dezesseis anos (que não é o cardeal mais novo, pois Calisto III, seu tio, nomeou um de treze anos, antes mesmo de sua crisma). Através de seus métodos, assumiu poderes sem limites, culminando na Bula que dividia o Novo Mundo entre Portugal e Espanha, por exemplo.
Seus principais concorrentes durante o conclave, Sforza e Della Rovere, se tornaram grandes rivais, com quem Alexandre VI lidava, sempre com ajuda de seu filho Cesare, de maneira aplaudida por Maquiavel, que elegeria Cesare como modelo de Príncipe Moderno. Savanarola, do clero de Florença, um grande opositor, foi humilhado publicamente, estrangulado e queimado; muitos outros de menor expressão seriam mortos, supostamente pelos Bórgias. A morte de Savanarola poderia fazer parecer que o Papa Bórgia era imbatível, mas foi uma semente da Reforma, que sucederia anos depois.


A Reforma

Martinho Lutero
Não só os cargos clericais estavam em constante disputa de interesses, mas também a posse de bens. A Santa Igreja era a Instituição mais rica do Ocidente, detentora de terras invejáveis a qualquer grande imperador. Além disso, os reis que buscavam centralização do poder precisavam de poder sobre a religião. Não obstante, o crescimento da burguesia era barrado pela imoralização da usura (juro), o mesmo tabu que causaria o rompimento das Ordens Cavaleirescas (criadoras dos bancos) com a Igreja. Foi graças ao apoio de nobres e burgueses ambiciosos que Martinho Lutero conseguiu sucesso na sua empreitada humanística da Reforma.
Como dito anteriormente, o movimento reformista já ganhava corpo, ao exemplo da atitude de Savanarola, ou dos Hussitas, liderados por Huss, que foi queimado na fogueira. As iniciativas eram graças ao movimento Humanista que se espalhava pelos quatro cantos da Europa, com base em diversas Universidades. Diria mesmo que, não fosse a ruptura com os humanistas em Castela, por parte dos Reis Católicos, a Reforma teria sangue latino, tamanha era a concentração desses pensadores em Universidades como a de Salamanca. Foi, porém, no coração do Sacro Império Romano Germânico que ela aconteceu, graças a atitude de Martinho Lutero que criou suas famosas 95 teses, nas quais contestava muitos dogmas da Igreja que considerava corrompidos. Não entrarei em detalhes sobre as teses, porque isso pode ser assunto para uma postagem própria, mas acredito que o principal seja repúdio a Compra de Indulgência (perdão de pecados mediante a pagamento) e a tradução da Bíblia (que faria da palavra das escrituras a lei, em detrimento da palavra dos Padres), além do fim do celibato, enfim, o suficiente para a ira do Papa.

A reforma Luterana foi o estopim para o surgimento de outras facções cristãs, como Calvinistas e Anglicanos, umas mais Burguesas, outras mais Monarquistas. Na tentativa de encontrar um solução, foi convocado o Concílio de Trento, onde foram elaboradas medidas de caráter reformista na Igreja: A volta do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), proibição de livros, criação da Companhia de Jesus (catequistas para o Novo Mundo), adoção da Vulgata como a Bíblia Oficial e supressão aos abusos da indulgência. Para essas decisões se deu o nome, posteriormente, de Contra-Reforma.
As consequências da volta com força total do Tribunal do Santo Ofício causou o período conhecido como o mais negro da história da Igreja. Não que protestantes não cometessem atos tenebrosos, mas como foram eles que escreveram a história, no final das contas, foram os católicos que pagaram de Vilões. Na minha visão, o que se passou foi um estado de Guerra Civil Primitiva. Nessas questões, nunca há lado certo e errado. Por exemplo, em contra ponto à inquisição, pelo menos três Papas manifestaram repúdio à escravidão nas colônias americanas, fato pouco exposto.

O Papa viu, no contexto do surgimento do protestantismo, Roma ser saqueada; Nações Católicas como Espanha e Portugal, perderem suas posses coloniais para Inglaterra e Holanda; além da perda de muitos súditos na fé. Era o fim do auge do poder do Papa.


Napoleão, a Itália e a Questão Romana

Por duas vezes, o vaticano se viu simplesmente extinto. A primeira com a invasão francesa liderada por Napoleão Bonaparte e o início da idéia de Estado Laico. Qualquer revolta era severamente punida. Os Estados Pontifícios só foram restituídos pelo Tratado de Versalhes. Na segunda vez, porém, havia um ideal maior: a Unificação da Itália. Victor Emmanuel II nunca cederia territórios dentro da área de soberania italiana. Só em 1929, com o Tratado de Latrão é que se reestabeleceria o Vaticano, em proporções que nada lembram às da Idade Moderna.

O poder de influência política havia diminuído, mas continuava vultoso. A Doutrina Social da Igreja, que dava preferência ao Capitalismo, mas com interferências de cunho social do Estado e a formação de sindicatos era, num tempo de mudanças, uma idéia já com muita cara da Igreja Moderna. Ainda vale lembrar que, mesmo hoje, a Igreja Católica possui terras que, se somadas, formariam uma nação maior que muitas que por aí se encontram e que, mesmo não comparáveis ao luxo do passado, ainda há muitas riquezas sob domínio da Santa Sé.

Atualmente, o Vaticano possui menos de meio quilômetro quadrado e cerca de 800 habitantes.

Após o Concílio do Vaticano II, o papel do Papa moderno foi estabelecido, com sua vida de peregrinações em diversos países, como pudemos ver em João Paulo II, sempre em defesa da paz, caridade, ecumenismo e direitos humanos. Uma igreja mais humanizada, finalmente, que se arrependeu oficialmente de seus grandes pecados, mas que, aos olhos de muitos, ainda parece atrasada em suas ideias.

Atenciosamente.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Breve História do Papado - I

No dia 11 de fevereiro, o Papa Bento XVI anunciou sua abdicação ao papado. Tendo em vista todos os comentários que esse evento gerou em redes sociais e na mídia eletrônica, logo pela manhã, iniciei uma breve pesquisa para me embasar em meus comentários a respeito do papado. Por isso, trago agora uma breve história e uma discussão tão profunda quanto meus parcos conhecimentos podem gerar.


Pedro, representado com vestes papais
O Começo

Já de início, temos que discutir o surgimento da figura do Papa. São Pedro é visto por muitos fiéis como o primeiro Papa, mas o problema é que não havia esse posto na época. Não há consenso acerca da hierarquia da Igreja Católica primitiva entre os historiadores. Há os que defendam que os líderes locais (apóstolos) não eram submetidos ao comando de um líder central, muito menos que ele estivesse situado em Roma. Existem mesmo defensores de que São Pedro nunca foi Bispo de Roma, nem mesmo esteve lá. A problemática surge porque os testemunhos da sua presença na cidade seriam todos de pessoas nascidas muito depois da sua morte. De qualquer forma, a tradição dessa história beneficiou em muito a legitimidade do poder eclesiástico durante o passar de Séculos.

Eu repudio o anacronismo. Refiro-me, aqui, a levar ao pé da letra o título de Papa. É óbvio que nada surge pronto, na sua forma final. O papa que conhecemos hoje é o resultado de mais de dois milênios de evolução do direito canônico. A igreja Católica de hoje não se assemelha em quase nada à igreja primitiva ou a poderosa igreja medieval, que constituiu exércitos numerosos e tinha grande poder político. Pedro foi um nome importante da Igreja Primitiva, senão o principal. Isso está nas escrituras. Se realmente ele foi sacerdote em Roma e foi essa "linhagem" que depois se tornou a principal entre todas, é possível dizer que ele foi um Papa primitivo, ainda sem poder absoluto. Assim como os reis da França feudal não detinham o poder dos reis absolutistas, mas são considerados reis da mesma forma.

O fato é que, naquele tempo, o Bispo não exercia uma autoridade sobre os demais fiéis. Os privilégios do Clero foram conquistados com o passar do tempo. Os primeiros cultos eram pequenos e familiares e o Apóstolo tinha papel de ancião, respeitável pela sabedoria, casado e com filhos. O patriarca de Roma, em especial, não possuía vantagem alguma sobre os demais, nem mesmo participou dos nove primeiros Concílios, a despeito do que retrataram muitos artistas, pagos pelos Papas na Idade Média para distorcer a história, assim como sustentaram a legitimação da sua linhagem no fato de Pedro ser o fundador da Igreja Católica. Esquecem eles que a Igreja era de Deus, não de Pedro: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja". Não importa se você acredita ou não, a frase é de fácil interpretação e, em nenhum momento, dá a posse da igreja a Pedro, que é apenas instrumento, não edificador.


O Poder Eclesiástico

Imaginem um dúzia de pessoas reunidas para um culto. Essa era a cara das primeiras "missas". Foi quando o cristianismo ganhou proporções imperiais e o número de adeptos cresceu vertiginosamente que o desejo pelo controle do culto passou a gerar interesse. Os bispos passaram a delegar funções aos padres, primeiro sinal claro de hierarquia. No local do culto, a cadeira do Clérigo era mais elevada, para que ele observasse a todos. Depois a cadeira elevada foi substituída pelo trono.
Os direitos dos Bispos se reforçaram após o Concílio de Nicéia. Essa reunião era uma tentativa de Constantino em apaziguar as diferenças entre tradições de diferentes bispados. Nele foi decidido que Jesus era também Deus, estabelecendo a Trindade e o Credo e quem não concordou foi excomungado e condenado pela lei, pois os dogmas ali decididos passaram a ter respaldo legal do Império. A heresia era crime, punível pelo Poder Secular. Os discípulos de Arios tiveram de se refugiar fora dos domínios romanos e suas posses passaram para o clero.
Com o início da pressão bárbara, a capital se transfere para Constantinopla. É nesse ponto que se abre a brecha para a subida ao poder em Roma. A falta do imperador torna o Bispo a figura mais importante, inclusive em questões de jurisdição e na política. Teodósio, então, tornou o catolicismo religião oficial no Império, o clero passa a ser constituído por Oficiais do Império, com remuneração. Cresce o poder clerical. No princípio parecia ser um poder espiritual, mas o tempo viria a torná-lo um domínio sobre o corpo, as terras, a política e o mundo (inquisição, Estados Pontifícios, benção de reis e guerras, Tratado de Tordesilhas, respectivamente).

Constantino oferece coroa a Silvestre I, Bispo de Roma, que aqui preside o Concílio de Nicéia.
 Na verdade, São Silvestre nem esteve presente à reunião.

A decadência do império e de seus governantes é o portal maior para os sacerdotes assumirem controle na sociedade, sustentados na filosofia de Santo Agostinho, que dizia que o poder Secular não poderia governar. Apenas a Igreja pode criar a "Cidade de Deus". Obviamente, Agostinho não disse que deveria ser o Bispo de Roma que deveria governar, mas os Papas acrescentaram a ideia. É nesse ponto, sobre as cinzas da Roma pagã, que Carlos Magno é coroado com a benção do Papa, dando a inspiração para a posterior criação do Sacro Império Romano Germânico. Não só ele recebeu terras de um império, com o seu auxílio, o Papa se tornou uma espécie de Rei, com a aquisição os Estados Pontifícios. Interessante dizer que o título papal se popularizou e oficializou graças a uma inscrição no trono do Bispo de Roma. O "papa" da inscrição indicava, desde o Século IV, a ambição dos romanos em se tornar "pai dos pais", ou "padre dos padres".

Vale lembrar que, já nessa altura, os abusos de poder eram muitos. Muitos fieis descontentes migraram para monastérios. Mais uma vez, Agostinho favoreceu os clérigos. Dizia que não importava se o padre que lhe oferecia os sacramentos era pecador, ele era apenas um distribuidor e o sacramento agia por conta própria.

Carlos Magno é Coroado pelo Papa Leão III
Cisma do Oriente

Em 882, morre o primeiro Papa por envenenamento: João VIII. Pouco depois foi Formoso I, que teve o corpo excomungado, mesmo após a morte, arrastado pelas ruas de Roma e lançado às águas do Tibre pelo seu sucessor, Estevão VII. O furor do povo veio a trazer a morte deste também, durante uma revolta, pouco depois.
No Século seguinte, João X foi morto pela filha de uma amante, que conseguiu pôr seu filho no Trono de São Pedro, mas esse também foi assassinado anos mais tarde.
Só Bento IX assumiu três vezes o posto: eleito em 1032, deposto em 1044, restitui o poder em 1045 e abdica no mesmo ano. Reassume em 1047 para ser definitivamente retirado do poder um ano depois.

Durante esse período conturbado, a sede de Roma e de Constantinopla romperam e voltaram a se entender algumas vezes até que, em meados do Século XI, não foi mais possível o acordo e Constantinopla, com o apoio de todos os patriarcados do Oriente, rompe de vez com o Ocidente. Surge a ortodoxia. é o Cisma do Oriente. Pode parecer uma grande derrota para o papa, pois nesse período, muitos papas foram destituídos mas, na verdade, a ruptura ajudou a trazer sentimento de bipolaridade sobre o poder do Papa ou do Patriarca de Constantinopla. Foi mais um fator de centralização do Poder Eclesiástico.

Mesmo após o rompimento, em 1095, é declarada a primeira Cruzada, em auxílio aos Bizantinos e para a conquista da Terra Santa. Surgem, então, as ordens de cavaleiros e a inquisição. Muistas cruzadas se sucederam no passar de Séculos, mas nenhuma como a primeira.

CONTINUA...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A Posse do Cargo Público

Seria difícil imaginar, hoje, um Estado que funcionasse sem servidores públicos nos moldes que conhecemos. No entanto, podemos olhar para o passado e ver que muitas formas de organização do trabalho para o Estado, da burocracia e dos exércitos foram tentadas até chegarmos à concepção moderna de Funcionário Público. A posse de um desses cargos, da mesma forma, foi obtida de diversas maneiras.

Enquanto Chineses, já no século VII, realizavam exames literários para altos cargos, somente no século XX é que Max Weber veio discutir essa metodologia no Ocidente.

Já de início, é necessário dizer que o "País" que conhecemos só surgiu a partir do Século XII. Portugal, em 1140, reuniu pela primeira vez os ítens necessários para formação de um Estado Moderno, ainda que monárquico. Antes disso, somente no Oriente poderíamos encontrar algo que se assemelhasse. Portanto, o cargo público, antes disso, tinha uma conotação um tanto diferente.

Já no Egito, papeis hoje representados por funcionários concursados ou selecionados eram desempenhados por sacerdotes ou funcionários do Faraó. Mas é necessário verificar que esses homens eram fiéis à figura do Faraó, o governante. É como se o funcionário público fosse defensor do governo, não do Estado.
Parece que, ainda nos dias de hoje, alguns servidores acreditam estar a serviço de prefeitos ou governadores, principalmente nos municípios pequenos desse Brasil a fora, mas esse não é o assunto da postagem. O importante é notar, também, que a escolha de cargos era Despótica, ao bel prazer do Faraó, que não pensava duas vezes antes de escolher seus familiares para funções importantes ou vantajosas, já que, por possuirem parte do seu sangue, poderiam suportar melhor a aura mágica que ele emanava e que poderia ser mortal a um simples camponês. Da mesma forma, não era impossível que ele escolhesse um homem distinto por sua qualidade em determinada função. Muitos engenheiros e artistas eram selecionados pelo mérito, mas muitas vezes seus cargos passavam para seus filhos menos prestigiados de talento.

Na Grécia Clássica, mais precisamente em Atenas, já que não havia um Estado Grego e sim diversas cidades com governo próprio, ocorreu algo interessante. Tudo era decidido por eleição ou sorteio e todo homem acima de 20 anos poderia assumir um cargo público, sendo agraciado com mandato de um ano sem reeleição. Os cargos mais importantes eram decididos via eleição direta da assembléia e os menores eram sorteados. Fácil para uma Cidade-Estado, difícil para uma nação de dimensões continentais, como o Brasil. Tomemos por exemplo o referendo sobre o desarmamento feito no nosso país, em que o gasto foi de 25 milhões para a realização, isso porque se aproveitou o momento das eleições.

Na Roma Antiga, foi adicionada a figura dos Cônsules, magistrados com poder deliberativo sobre diversas áreas, inclusive na escolha da posse de cargos importantes, como o do Tribuno (defensor dos plebeus). Mais tarde, tornaram-se figuras decorativas do império e os tribunos passaram a ser eleitos diretamente pelo povo.
Aos moldes dos conselhos de anciãos da antiguidade oriental, surgiu também o Senado Romano, cujos membros eram homens notáveis entre os Patrícios, isso é, a nobreza. Seu auge veio durante a República (nobreza republicana? pois é, continua a mesma coisa). A decadência veio com o período do império, quando se tornaram uma espécie de oposição, muitas vezes perseguidos pelo imperador.

Veio então, no Ocidente, um longo período de diluição de Roma. Diversos povos com organização pouco centralizada emergiram. Teve início o Feudalismo.

Na Europa Medieval, grande parte das funções se tornaram hereditárias. Graças ao rigoroso sistema de castas que separava nobres e plebeus, o mérito deixou de ser critério para a seleção de pessoas que realizariam um determinado serviço. Isso contribuia em muito para a baixa eficiência dos governos e para altos índices de corrupção. O rei não reinava um país, e sim um aglomerado de outros proprietários de terras menores, que por sua vez mandavam em outros menores ainda. Não é a toa que só após a centralização do poder nas mãos do rei é que passaram a existir nações coesas, na forma de Estados Nacionais, como vemos hoje.

Com a obtenção do poder centralizado, era possível escolher a dedo os melhores homens para cada função. Mesmo assim, seriam necessários séculos para o mundo ocidental chegar ao conceito de servidor público que se insere em nossa atual constituição. Enquanto isso, nessa mesma época, nas vizinhanças da Europa, os otomanos criaram um sistema que viria a impressionar o mundo ocidental, muito mais avançado e baseado puramente no Mérito. Maquiavel, um dos pais da política moderna, viria a elogiar o emprego dos funcionários públicos pelo sultão otomano. Um filho de um carpinteiro poderia se tornar, caso tivesse talento, um grão-vizir. Até cristãos e judeus possuíam alguma chance nessa nação islâmica. Como nada é perfeito, porém, é preciso criticar o fato de crianças serem tiradas de sua família desde muito cedo para a formação de funcionários totalmente fiéis única e exclusivamente ao Sultão.

O acesso restrito ao estudo também era fator de detenção dos melhores cargos pela nobreza e, depois das revoluções burguesas no início da Idade Contemporânea, pelas classes dominantes da economia. Mesmo que o Déspota quisesse dar um cargo a alguém competente, ele ficaria limitado a um rol de nobres e burgueses capacitados para a função.

Essa realidade fazia parte do Brasil Império e se extendeu à primeira fase da República. Somente em 1934, já na era Vargas, surgiu o Concurso Público, processo imparcial e meritocrata para a escolha de funcionários do Estado. Ainda assim, a perseguição política foi grosseiramente utilizada para destituir os cidadãos de sua conquista. Em 1988, com a atual constituição (feita por "perseguidos" políticos), surgiu a idéia da estabilidade, que diferencia o servidor público do funcionário de empresas privadas. Os pontos positivos e negativos da estabilidade dos funcionários concursados não cabe a essa postagem discutir.

Hoje, temos, no âmbito público, os cargos selecionados por avaliação (concursos e seletivos), os cargos eletivos (com mandatos temporários) e os indicados por confiança (processo semelhante ao Nepotismo Faraônico). Mesmo com toda a evolução do processo de obtenção do cargo público, vemos manobras para burlar as regras e toda sorte de corrupção, desde os menores cargos de prefeituras até as mais altas esferas do poder. Esse é o Brasil, que não conhece sua história, menos ainda a história da civilização como um todo, em que indivíduos ignorantes a tudo isso, eleitos pelo povo igualmente alheio, se acham no direito de jogar toda a evolução histórica da política no lixo para benefício próprio.

Agora um pouco de opinião pessoal. Aqui fala alguém que foi terrivelmente prejudicado por corrupção e irregularidades dos bem afamados concursos. Lembro de ter lido num calendário de parede da CUT que dizia: Sem concurso não há democracia. Nomeação é corrupção.. ou algo assim. De que adianta o gasto no concurso, no entanto, se há milhares de formas de burlar a prova e pouquíssima fiscalização. Um concurso em que passei foi suspenso por indícios de irregularidades (tem criminoso que não vai preso por não haver provas suficientes, mas meros indícios de irregularidades foram o bastante para que eu perdesse o cargo por causa de um crime alheio, e já estou sem esperanças de indenização). Em outro, passei e esperei sentado para ser chamado (informações dizem que não há interesse em me chamar, pois o cargo é muito oneroso para a folha de pagamento). Soube que eu poderia entrar na justiça para haver o cargo, mas como entrar dessa forma numa cidade pequena? Que tipo de perseguições eu sofreria por 4 anos? É evidente que só entra quem convém politicamente. Postei a respeito porque pode interessar a alguém, mas a mim não interessa mais cargo público nenhum. Estabilidade tem quem é capaz de lidar com os vaivéns do mercado. O governo é instável e repugnante.

Atenciosamente.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A República de Estudantes de Esquerda

Durante meu curso na Universidade, pude contemplar a presença de inúmeros colegas universitários da esquerda política, a maioria partidários do Socialismo, muitos ainda que vinham às aulas com camisas vermelhas, como se fossem uniformizados. Fiquei sabendo posteriormente que a universidade em que estive é grande centro brasileiro de estudos marxistas. Aff...
Lido, havia pouco, Charles Fourier e seus Falanstérios, estava com a mente voltada a aceitar toda aquela movimentação como algo bom, o futuro da sociedade, o intelectualismo na Universidade, como nas décadas da ditadura, seria a salvação do país. Admirava os estudantes engajados, muitos com o talento de promover discursos em palanques e campanhas eleitorais invejáveis para o Diretório Central Estudantil.

Certo dia tive oportunidade de visitar o apartamento de um camarada, recentemente conhecido. Morava numa república onde todos se encaixavam nas características citadas anteriormente. Eram muitos livros, muita discussão sobre um assunto vigente da época, a privatização do Hospital Universitário, uma marofa daquelas e muitas latas de cerveja vazias espalhadas.
Naquele local, senti como se estivesse numa vanguarda do intelecto, pois era aquilo que minha vulgar inteligência idealizava como sendo o suprassumo da vida acadêmica.

Foi quando abri a geladeira que minha visão crítica começou a trabalhar. Não pela imundice, pois devo confessar que meu apartamento nunca foi do maior capricho nesse quesito, mas pela organização espacial. Cada membro da República (que não lembro o nome) possuía um lado de uma prateleira para guardar suas coisas. Presenciei, inclusive uma ligeira discussão acerca de um molho desses de pôr no cachorro quente, não me lembro se era mostarda ou maionese, mas que estava invadindo o território alheio. O fato caiu sobre meus pensamentos como pedra. Desde então, passei a observar melhor a residência daqueles comunistas e vi muitas coisas que não pareciam nada com o que havia lido tempos antes.

Fourier defendia que todos trabalhassem e que o resultado desse trabalho fosse colocado num só bolo, de que todos poderiam utilizar, conforme sua necessidade. O que vi ali eram divisões sistemáticas de posses e atitudes que nunca levariam a um socialismo saudável. Os quartos, por exemplo, uns limpos outros um tanto sujos, mas organizados, por que cada um tomava conta da limpeza de seu dormitório. Os que eram divididos entre mais de um estudante estavam mais sujos porque havia dificuldade em dividir as tarefas de limpeza. Os cômodos comuns, por outro lado, eram odiosamente impregnados de uma camada de poeira, pois ninguém queria trabalhar, mesmo que obrigados pelas regras da República, no lugar comum. Faziam então um serviço "relaxado", até que não houvesse mais condições, daí chamavam uma diarista. Resolvido. O assunto, que eu trouxe à tona, foi motivo de risos, a final de contas, pois tudo era passível de virar piada naquela roda de jovens sábios. Na minha cabeça, porém, martelava (ou foiçava, não sei bem) que aquilo não era o que imaginava.

Aquele que pagava uma percentagem relativamente maior do aluguel tinha um quarto só para ele e um espaço maior na geladeira que, por mais que se encontrasse vazio, não poderia ser utilizado pelos outros.
O video game estava ali, em frente ao televisor, mas não podiam ligar, pois o dono não se encontrava em casa.

Passavam horas a discutir assuntos de Estado e a economia nacional, sem perder um minuto para reorganizar a bodega onde moravam. Era o famoso "discutir o sexo dos anjos". O momento que mais me impressionou negativamente, porém, foi quando entrou em pauta a eleição do DCE que aconteceria em breve (motivo da minha visita). Cursos se tornavam simples números na contagem de votos, adversários eram chacoteados, os aliados, pouco se comentava. Para os indecisos, decidiam a melhor forma de manipular seus votos com o único intuito de ganhar o pleito. O que seria feito depois da vitória, talvez discutíssemos outra hora.

Perdemos a eleição, mas estive na sede do Diretório tempos depois onde vim a ter com um antigo conhecido, membro da chapa contrária, e tive certeza de que, pelas atitudes desse rapaz, a nossa derrota naquele momento foi uma vitória para todos.

A capacidade de abstração do ser humano, por vezes, é excessiva. Pode imaginar uma sociedade perfeita de camaradas altruístas sem nem mesmo sê-lo em sua própria casa. Mesmo os cientificistas do socialismo não conseguem fazer seu trabalho da mesma forma que o fazem para si mesmos, quando têm de realizá-lo na terra comum. E quando isso se torna óbvio, basta pagar para alguém fazer o que ele não teve vontade.
Atenciosamente.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Brasil e a Crise dos Mísseis de Cuba

Tema de um filme que figura entre meus favoritos: Os treze dias que abalaram o mundo, esse momento é daqueles que mudam a história do mundo de forma irremediável. Vejamos embricamentos do que levou a Guerra Fria a ser fria e não quente como uma explosão nuclear.
Era o governo de João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros. Não só o Brasil vivia uma situação crítica de pressão dos militares sobre o governo. Na União Soviética e nos Estados Unidos, uma escalada de manobras intimidadoras levavam à beira de um colapso no delicado equilíbrio que permitia a paz durante a Guerra Fria.

No ano de 1961, a tentativa de derrubada do regime de Fidel Castro na invasão na Baia dos Porcos foi uma humilhante derrota americana. Serviu apenas para enfurecer os Soviéticos e para ferir o orgulho dos generais americanos, loucos para uma nova tentativa. A instalação de mísseis, por parte dos Estados Unidos, no mesmo ano, em base militar turca, serviu de estopim para os comunistas. No ano seguinte, a resposta viria com o que ficou conhecido como o momento mais perigoso da história da humanidade.



A retaliação pela atitude ofensiva americana veio com a instalação de mísseis em Cuba, o único aliado declarado no Novo Mundo. Obviamente, as forças armadas dos Estados Unidos mantinham vigilância constante da ilha caribenha através de aviões espiões, que logo descobriram o procedimento.
Iniciou-se, então, um período de 13 dias nos quais, ora se aproximava do início de uma guerra nuclear, ora parecia haver possibilidades de acordo. Militares de ambos os lados pressionavam para ação ofensiva, mas pessoas iluminadas persistiam em esvaziar até a última gota da diplomacia.


Robert Kennedy entra como personagem importantíssimo na história, tendo atirado para todos os lados (a expressão não fica muito bem aqui), na tentativa de encontrar solução pacífica.
Nos últimos dias, enviou carta ao governo brasileiro, onde solicitava o envio de diplomata para Cuba, na tentativa de uma aproximação e um acordo, no qual prometeriam não destituir o governo castrista, em detrimento da manutenção dos mísseis balísticos.
Foi enviado, no lugar de um diplomata, um militar com simpatia pelo partido, mas as negociações andavam devagar, pois Castro queria que Guantánamo (onde havia base militar americana) entrasse nos termos. Foi então que, a despeito das negociações mediadas pelo Brasil, americanos e soviéticos chegaram a um denominador comum que envolvia a retirada das armas em Cuba e a promessa de não invasão (oficialmente) e a retirada das armas americanas da Turquia e Sul da Itália (extra-oficialmente).

Assim, podemos perceber a importância política do Brasil nas questões do continente americano. Não devemos nos negar esse papel e, para isso, é necessário que o povo brasileiro conheça sua história e as minúncias da política. Só assim assumiremos a responsabilidade devida de uma potência continental e, quem sabe um dia, mundial. "Um povo que não conhece sua história está condenado a repetí-la."
Atenciosamente.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Romances sobre História do Mundo

Essa Lista é um tato complexa, por isso, curta. Não valem aqui livros que contam a história, simplesmente. São romances, com um enredo ficcional e que acabam, em meio à história, tecendo um "documentário". Sendo assim, Uma Breve História do Mundo, ou Pequena História do Mundo Para Crianças não valem, porque não possuem trama, apenas a descrição histórica. Outros como Código Da Vinci, apesar de se encaixarem no gênero, abrangem parte limitada da linha do tempo.


 História do Mundo para as Crianças
Monteiro Lobato

O enredo é só uma desculpa para contar a história, mas já vale. Dona Benta, em meio a uma roda com toda a turminha, conta histórias do mundo, desde a pré-história até o século XX.
Como a obra já pode começar a ser considerada "antiga" ou um clássico, como preferirem, porque muitos fatos já foram cientificamente descartados, como o homem da pedra que puxava a mulher pelos cabelos. Mesmo as imprecisões são divertidas para a compreensão de uma época diferente, há tão pouco tempo e já tão distante.








O Mundo de Sofia - Romance da História da Filosofia
Jostein Gaaster

Não é bem uma história universal do mundo, mas as misteriosas cartas que chegam à menina Sofia são um relato histórico MUITO agradável de ler da história do pensamento humano.
Muitos falam em como é difícil encontrar um livro desse tipo que seja imparcial. Eu, do meu lado, prefiro aquele que ressalta todos os momentos, que faz com que fiquemos mais entusiasmados com a leitura.







Ok, preciso de ajuda para achar mais livros desse tipo, são alguns dos que mais marcaram minha formação como leitor. Qualquer dica é bem vinda.

Atenciosamente.

A Maldição de Paulo Camargo - Edifício Joelma

Poucos dias depois da tragédia em Santa Maria, chega o dia 1 de fevereiro, 39 anos exatos do episódio do incêndio no Edifício Joelma, o segundo mais trágico da história nacional, só superado em perdas humanas no recente acidente no Rio Grande do Sul.
O incêndio do Joelma ocorreu por um curto circuito num aparelho de ar-condicionado, em 1974, três anos após a inauguração da construção.

Uma história por anterior a esse momento infeliz é que causa arrepios, por ter acontecido no mesmo lote, perto da esquina da Santo Antônio com a 9 de julho em São Paulo, onde, antes da construção do Joelma, morava uma família da qual não restaria nenhum membro.

No ano de 1948, acima de qualquer suspeita, o professor de Química da USP, Paulo Ferreira Camargo, chamaria a atenção da imprensa para um crime bárbaro, que hoje seria mais um entre tantos da TV, mas naquele tempo, quando a mídia ainda não descobrira o nicho do "Sangue no Jornal" e assassinos não costumavam ser transformados em celebridades, causou choque na população.

O jovem professor de 26 anos construiria, no terreno de sua casa, um poço porque, segundo ele ao ser investigado, abriria uma fábrica de adubo e não poderia usar do sistema convencional de esgoto. Dias depois, espalhou a notícia de que iria viajar para o Paraná com a família. No dia 5 de novembro enviou a nota de falecimento de sua mãe e das duas irmãs com quem dividia residência, num acidente de carro nas proximidades de Curitiba.

Vizinhos começaram a achar estranho o fato de não haver funeral. Pessoas próximas aos outros integrantes da família, Benedita (mãe), Maria Antonieta e Cordélia (irmãs), que não foram avisados da viagem, também passaram a suspeitar. Denunciado, passou a ser investigado pela polícia que, ao interrogar o Dr. Hoffmann, colega de trabalho no laboratório de Química da Universidade, foi ralatada uma pergunta feita pelo suspeito à testemunha que intrigou a polícia: Qual o melhor agente químico para corroer um cadáver?

A investigação na residência de Paulo trouxe a luz o poço que construíra. Não contentes com as explicações  e a aparente regularidade da obra, pediram aos bombeiros que escavassem a área. Imagine a surpresa daqueles que viram os três corpos, parcialmente enrolados em panos, de cabeça para baixo, imersos no poço.

Com policiais cercando a casa, o professor pediu licença para ir ao banheiro durante a escavação. Foi nesse momento que usou sua arma para o suicídio, levando consigo as explicações para o bizarro crime e a chance de ser julgado e punido pela lei dos homens.


A vinda a tona do fato, após o incêndio, obviamente abriria oportunidade para o mito da maldição que estaria contida no lote. A fama de mal-assombrado só ganhou força com o fato de 13 pessoas que ficaram presas num elevador, vítimas do incêndio, não terem sido identificadas.