segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sicília

Como nossos ascendentes não podem ser ignorados, como fazemos ao venerar mitologias estrangeiras em filmes de fantasia e quando assistimos a documentários sobre batalhas que não interferiram em nada na nossa condição de dominados, ora por um, ora por outro, devo discorrer sobre a terra natal de meus antepassados: a Itália. Mais precisamente da região de onde veio sua maioria: a Sicília.



Não apenas por obrigação, mas pelo interesse que disperta essa ilha, separada da Itália por apenas 3 quilômetros, pelo Estreito de Messina, chave para qualquer um que queira ter o domínio sobre o Mediterrâneo. Graças a esse fato, a história das civilizações mediterrâneas pode ser encontrada na história da Sicília. Seu povo de fama rude tem motivos para tanto, pois essa história consiste, como sempre, na guerra e invasões de muitos povos, o que causou a xenofobia típica, principalmente nos lugares mais pitorescos da formosa e rochosa ilha.

Primeiros Povos
Inicialmente colonizada por Sicanos, Emílios e Sículos há tanto tempo que pouco se sabe sobre as reais circunstâncias desse período. Mais tarde, chegaram os Fenícios no Oeste, trazendo o início da tradição de comércio no litoral; depois os Gregos a Leste e Sul, que fundaram Siracusa, importante cidade comercial e capital por longo período.

Primeiros Invasores
O primeiro período de guerras organizadas foi entre gregos e cartagineses. Ao final, Cartago transformou a ilha em uma das regiões mais importantes do império.
Depois chegaram romanos. Empreendendo as Guerras Púnicas, conseguiram conquistar a Sicília, que continuou tendo grande importância comercial e como produtora de trigo. As Guerras Púnicas voltaram a acontecer e, durante todo o tempo em que Cartago teve força, houve muitos ataques ao litoral.
Durante o declínio de Roma, a ilha parecia protegida ali, na ponta da bota e cercada de água, uma vez que os povos bárbaros não tinham tradição no mar. Mas após sua expulsão da Península Ibérica, os Vândalos entraram pela África, tomando todo o Norte até Cartago, de onde partiram para formar, sob o camando de Genserico, um reino bárbaro no local.

Outros bárbaros, os Ostrogodos, depois de tomarem a Península Itálica, dominaram a Sicília Vândala. O último bastião dos Vândalos foi Lilibeo (Atual Trapani, sobrenome de minha avó paterna, por sinal). Anos depois, Justiniano, Imperador de Bizâncio, na sua tentativa de recuperar o Império Romano da antiguidade, dominou a ilha depois de longo conflito. A primeira invasão, rápida, usou de 15 mil homens, mas os ostrogodos conseguiram um contra-ataque, sendo necessário uma segunda ofensiva, de surpresa, pelo Norte.

Dominada pelos ortodoxos bizantinos, foi atacada pelos Muçulmanos Fatimidas, que tomaram várias cidades, subjugando a população ortodoxa e trazendo ao poder uma minoria islâmica no Emirado da Sicília. Os bizantinos ainda tentariam retomar a ilha e chegaram a invadir a capital, mas não foi o suficiente e recuaram.
Os Sarracenos continuaram a exercer seu domínio por dois séculos, nada ruim para a região, já que na época a cristandade passava por uma época conturbada, enquanto o islã florescia, até a chegada dos Normandos, tradicionais mercenários que, enriquecidos e politicamente fortalecidos, estabeleceram bases suficientes para uma campanha de conquista da Sicília. Com sua chegada, a conversão em massa para o catolicismo apostólico e o retorno da cultura latina ocorreram.

Então entra um período de conquista política, não militar. Quando o soberano do Sacro Império Romano Germânico, casado com a filha do rei da Sicília, tomou posse após a morte do rei. A ilha passou não só a integrar o Sacro Império, mas a figurar entre os principais reinos que o formavam. Já no século XIII, brotava uma ar de renascença e os domínios territoriais se estenderam para o Sul da Itália.

Com o fim da dinastia dos Hohenstaufen, o papa deu o domínio das terras a Carlos I, francês Angevino. Mas revoltas eclodiram nas cidades que buscaram apoio estrangeiro, principalmente em Aragão, cujo rei Pedro III possuía laços com os suábidas. Mais uma vez se fez necessário o conflito armado. Foi então que iniciou-se o período de domínio aragonês, que depois veio a se tornar um domínio dos Habsburgos, por questão de sucessão. Nesse meio tempo, os Piemonteses de Sabóia tiveram um curto período de posse da ilha.

Napoleão invadiu Nápoles, na época, indistinta da Sicília (Reino das Duas Sicílias), que voltou a se unir sob a coroa da Sicília após o Congresso de Viena (1815).

A agitação voltaria em breve, durante as guerras da Unificação Italiana, com as tropas de Garibaldi invadindo o território insular. Um plebiscito a tornou parte do Reino da Itália. Depois disso veio um período decadente, motivo das migrações que trouxeram muitos para o Brasil, Argentina e Estados Unidos.



Aqui vale um adendo: A obra de Giovanni Verga "os Malavoglia" retrata a época da segunda metade do século XIX de forma esplendorosa, num romance que lembra as escolas realista e naturalista da literatura brasileira (Machado de Assis e Aluísio Azevedo) e nos faz pensar na situação econômica e social que levou o povo siciliano a migrar em massa para, principalmente, Brasil e Estados Unidos. Essa obra foi reeditada em 2013 pela Abril, numa coleção de clássicos da literatura. A edição vem com muitas notas do autor interessantes.



O século XX
Vieram as Guerras Mundiais do século XX, e foi pelo Sul da Itália que chegaram os Pracinhas brasileiros para combater o Facismo, muitos deles descendentes de italianos que tiveram ali a oportunidade de ver de onde vieram seus pais e avós. Depois, obviamente destruída, a Sicília viveu o oportunismo de famílias mafiosas diante da crise que se instalara. A máfia foi teoricamente derrotada, sendo que o "último mafioso" foi encontrado escondido no Brasil (refúgio de todo tipo de vilão internacional) e hoje a Sicília é um Território Autônomo da Itália. Essa separação histórica tem sido motivo de muito preconceito interno contra os cidadãos da região e tem imposto barreiras para os descendentes que procuram a cidadania italiana como Oriundi com ascendentes do Sul.

Enfim, tudo que acontecia na Europa refletia nessa ilha cheia de história que merece apreço maior de todos os amadores do conhecimento.



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