sábado, 26 de janeiro de 2013

Matemática da Abolição

Antes de iniciar, preciso, como é de praxe, salientar que, em nenhum momento, quero com esse artigo diminuir a importância histórica da abolição da escravatura. Meu interesse é discutir mais a fundo momentos que, muitas vezes, são explicados de forma simplista e distorcida em nosso sistema educacional.

Uma visão interessante sobre a abolição da escravatura no Brasil é que a Lei Áurea, tanto comentada, foi apenas o tiro de misericórdia no sistema moribundo.

Vamos fazer as contas:

O primeiro passo para o fim da escravidão foi a Lei Eusébio de Queirós (1850) que proibia o tráfico de escravos no Atlântico (claro que a lei existia para ser burlada). Então, em 1871, veio a Lei do Ventre Livre que declarava livre todos os nascidos, mesmo de mãe escrava (claro que ele teria que viver junto de sua mãe escrava, pelo menos até poder se virar e, com certeza, acabava sobrando trabalho escravo pra ele aqui ou ali). As duas leis, na teoria, eram suficientes para acabar com a escravidão, assim que falecesse o último descendente de escravo nascido antes da vigência da Lei do Ventre Livre.

Acontece que tudo iria ocorrer muito lentamente, no decorrer de uma geração inteira. É muito tempo. As pessoas tinham que ver acontecer. Declara-se, em 1885, a lei dos sexagenários, que emancipa todo escravo que atinge a sexta década de vida (claro que poucos chegavam lá, pela qualidade de vida precária que podiam levar). Obtive dados não necessariamente corretos, em vídeos na Internet, que dizem que a expectativa de vida após a chegada no Brasil de um escravo era de 5 anos. Isso explicaria, em parte, por quê nos EUA, onde chegaram muito menos escravos, havia uma população negra maior. Enfim, agora sim, estava marcado o prazo para o fim da escravatura: 1931, ano em que o último nascido antes da Lei do Ventre Livre completaria 60 anos.

Os fazendeiros mais esclarecidos, como sabiam que esse caminho era sem volta, desde então já vinham se preparando com a chegada dos primeiros imigrantes europeus assalariados. Os escravistas, apesar de derrotados, tentavam se adaptar à lenta transição, mas tem coisas que não podem esperar. Não bastava naquela época, como não bastaria hoje, saber que a liberdade chegaria no final da vida. Tinha que ser já. Então veio o tal tiro de misericórdia em 1888. Ainda que esperada, a emancipação foi tida como a quebra do alicerce do império brasileiro.

Posso até imaginar os fazendeiros, bons brasileiros que eram, que tinham deixado tudo pra última hora. De repente tiveram de alforriar seus escravos e adaptar toda a sua produção para o novo sistema de uma vez só. Uma confusão!! Foi um ato nobre, que custou muito à nobreza.

Atenciosamente.

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